As Festas já se
foram, as férias logo se vão, as saudações e os abraços vão
silenciando e se recolhendo, e a vida vai retomando seu ritmo,
as pessoas voltam a mirar seus objetivos comuns, que se resumem
em cuidar da própria vida, e assim vai girando a roda
viva da existência. A gente dá uma trégua aos agradecimentos e
retoma o ato de pedir. Rogar para que a vida transcorra sem
sustos, sem perdas, sem lágrimas de tristeza ou de desespero,
pedir pela conservação da plena vida, das pessoas e das coisas
já conquistadas, pedir a proteção dos céus, pedir pela
garantia do pão de cada dia, pela continuidade de uma vida
digna, enfim, pedir pela manutenção da rotina que nos dá a
agradável sensação de estarmos em segurança.
O
início de um novo ano se compara ao ato de pegar a estrada,
reiniciar uma longa viagem que se arrastará durante 365 dias,
viagem que a gente já fez tantas vezes, mas não sabe seus
meandros, as surpresas que poderá encontrar depois de cada
curva, depois de escalada cada colina, após haver atravessado os
túneis. A partida é quase sempre alegre e alvissareira, cheia de
sonhos e de esperanças que o desconhecido pode frustrar e
apagar. Toda esta incerteza nasce do fato de que cada nova
viagem se faz em nova estrada. Cada ano que se vive é sempre
diferente dos demais. Você está pelo menos um ano mais velho do
que no início da outra viagem, você carrega tudo que foi novo no
ano que você atravessou e sabe que a nova estrada poderá
surpreender a cada minuto, a cada hora, a cada dia; você sabe
que sua nova caminhada poderá revelar coisas, pessoas e fatos
que você nunca experimentara antes, o que a torna um desafio.
Quem já viveu
longo tempo pode ver hoje quantas coisas que pareciam eternas e
desapareceram. Pessoas, famílias inteiras, suas casas, seus bens
morais e materiais, suas conquistas, seus sonhos ainda a
realizar, tudo sumiu, engolido pelo profundo e infinito buraco
do tempo, que suga tudo alimentado por tantos anos novos,
O ano que passou
surpreendeu os itapolitanos com o ruir das paredes, do telhado e
do lindo frontispício da fachada do nosso Cine Theatro Central,
que deixou um vazio no coração da cidade. Mas este vazio só
ficará no coração que bate em cada cidadão que cultua a história
da cidade, porque o “vazio” terreno onde esteve nossa casa de
sonhos, já deve estar preenchido por novas paredes, novo
telhado, nova fachada. Para aqueles que não curtiram o velho
cinema que nele funcionou para várias gerações, sua lembrança
que já era tênue, já deve ter-se apagado. Para os que o curtiram
na infância e na juventude, ela resistirá enquanto vivermos.
Cada um de nós que partir deste mundo, levará um tijolo, uma
telha, uma viga até que sua arquitetura que já virou esboço,
desapareça.
Quantas
alegrias, quantas criancinhas fofinhas, quantas conquistas,
quantas vitórias vão eclodir neste novo ano? O que será que irá
ruir nesta nova jornada de 2014? Não sabemos, nem queremos
saber, se não pudermos socorrer, impedir ou reerguer. Aí reside
o encanto do Ano Novo, como aí também reside o sinistro que pode
estar no seu bojo.
Eu pretendo
continuar meu projeto de resgatar o passado desta terra, suas
histórias, suas coisas, suas pessoas, todas as suas famílias.
Mas eu também estou iniciando esta nova jornada, sabe-se lá o
que vou encontrar pela frente, ou depois da primeira curva. É
chegada minha hora de pedir: que Deus onipotente me dê vida útil
enquanto achar que eu mereço. Caminhemos todos juntos, vamos
juntos enfrentar este desafio. Com fé, esperança, bondade no
coração, teremos chance de chegar. |