Vendo as notícias de
hoje, é forçoso lembrar aquela vida tão gostosa dos tempos vividos
aí na terrinha. Se vejo a violência que aterroriza, que desafia os
órgãos da lei, vem-me à lembrança a vida pacata que todos nós
levávamos, passando anos sem notícia de nenhum crime, de nenhuma
morte violenta; se a moça do tempo fala em tempo seco, da umidade do
ar que está lá em baixo; se a imagem mostra lavouras queimadas pelos
tórridos dia de sol, lembro-me das matas fechadas que circundavam
nossa cidade, fazendo a gente ver, ao horizonte, o vapor que subia
do arvoredo e favorecia a formação de nuvens e logo a chuva chegando
pra suavizar o clima, regar as plantações, mantendo verdes as
pastagens, as copas das árvores e os arbustos de nossos jardins.
Quando ouço denúncias de políticos que assaltam os cofres públicos,
que vendem seus votos para favorecerem partidos, empresas, grupos
financeiros e quando descobertos, renunciam ao mandato para poderem,
em futuro próximo, candidatar-se a voltar e voltam pelos votos do
povo, me dá muita saudade de minha mais tenra Itápolis, onde e
quando os governantes tinham o maior respeito pelos seus cargos,
apresentavam-se com seus nomes e sobrenomes de registro, compareciam
às sessões de terno e gravata, reflexo da seriedade com que
encaravam os compromissos que assumiram com seus eleitores, o mesmo
acontecendo nos planos estadual e nacional. Tempo em que o eleitor
tinha, antes de tudo, respeito pelo voto e respeito por si próprio.
A cidade evoluía
devagar, naquele ritmo sonolento e o progresso nos chegava em
conta-gotas, mas era um progresso honesto, transparente, sem
lobbies, sem negociatas, sem superfaturamentos que enriqueciam
indevidamente como acontece hoje, por estes brasis, com muitos
daqueles que mereceram a confiança do povo. Itápolis daqueles
tempos, assim como Ibitinga, Borborema, Novo Horizonte, Itajobi e
tantos outros municípios da região, não tinha bairros diferenciados
pelo poder econômico, o que suavizava muito as diferenças de
classes.
Tanto se sonhou com
a igualdade e o que temos é a opulência, o exibicionismo da riqueza;
tanto se sonhou com a fraternidade e o que vemos é o desprezo cada
vez maior pelo semelhante, de uma sociedade que acha mais fácil
criar ou adotar cãezinhos de raça e até vira-latas do que filhos ou
crianças sem lar e sem família; tanto se batalhou pela liberdade e o
que se valoriza hoje é a liberdade de ter uma atitude debochada
diante do saber, da cultura, dos bons modos. Liberdade que é
confundida por muitos e muitas com libertinagem, com o novo hábito,
nojento costume da boca suja, com atitudes refletidas em palavras de
baixo nível que se exibem no veículo mais em moda do século, a
internet, via redes sociais.
Quem viveu um tempo
de almas limpas e bocas respeitosas, de mentes livres de sujeiras
verbais, não consegue aceitar calado tamanha deterioração dos
costumes. Quem aprendeu a ver a mulher como criatura digna de amor e
de veneração e vê hoje muitas delas agirem como feras que atacam
suas presas, que “só pensam naquilo”, que abrem a boca para soltar
palavras chulas, vulgares, avessas ao pudor, tem mais é que se
assustar!
Parece que o ser
humano procura jogar no lixo seus poderes maravilhosos que lhe foram
doados pelas generosas mãos de Deus, como a inteligência, o saber, a
ponderação, a pureza d’alma; dá a impressão que as grandes
descobertas das ciências são abocanhadas para a prática do mal, para
o errado, para o aviltamento de seu próprio usuário. Descobriu-se a
pólvora e correram inventar a arma de fogo, esse covarde instrumento
de matança; inventaram o avião e logo apareceram os caças, os
bombardeios vindo do ceu, os temíveis destruidores em massa, da vida
humana.
Agora inventaram
tantas coisas novas, inesperadas até, aparelhos e dispositivos que
deveriam revolucionar a sociedade humana, levando-a a ampliar o
conhecimento, a estreitar as relações humanas, a incentivar a
solidariedade entre os povos, enfim, a melhorar o homem, esta
criatura imaginada por Deus! Mas, o grande Criador inventou de
inventar o tal de livre arbítrio e o que se deu? Como o estouro da
boiada o homem saiu aos bandos a cometer injuriosos atos, com enorme
predominância do instinto e enorme desprezo à razão. E o computador,
o celular, estas riquezas criadas pela inteligência que é obra
divina, servem para ordenar a morte, para armar a emboscada, para
espalhar tudo que é produzido pelo lado estúpido do homem! Hoje se
fala muito na decantada “banda larga”, que amplia o dinamismo e o
desempenho da comunicação. Mas o que mais cresce é a “banda podre”
que está assolando e apequenando ao minúsculo, o ser humano! Por
estas e outras é que vivo hoje embalado pela saudade!
É claro que não são
todos a cometer desatinos, é evidente que tem muita gente boa neste
mundo de Deus, que tem muito político bem intencionado, muito
cidadão que prima pela retidão e honradez. Se não fosse por esses, o
mundo já teria naufragado num imenso mar de lama. Mas o que
impressiona e amedronta é o espantoso crescimento dessa verdadeira
horda de insensatos. É o crescente descaso pelo enriquecimento da
alma humana, que se reflete no desrespeito que assusta, porque se
generaliza. Eu sei que muitos dirão: isto é “conversa de velho”, mas
corrijam isto para “conversa de gente de outros tempos”, fica melhor
assim. |