Empossado no cargo de professor de Francês do Ginásio Estadual
e Escola Normal de Monte Aprazível, já me sentindo membro daquela
simpática casa de ensino, fui cuidar de minha hospedagem na cidade.
Meus colegas me cercaram de gentilezas, chamaram o Professor Toledo
e lhe perguntaram se havia vaga no hotel onde ele morava. Toledo me
levou com ele ao Hotel Líder, do Sr. Rodolfo Durante, na rua
principal da cidade, na verdade a rua do comércio local. Logo fui
acomodado no anexo do hotel, onde residiam os hóspedes mensalistas,
todos professores. Ali conheci o Professor Amim, oriundo de
Sorocaba, titular da cadeira de Trabalhos Manuais, o Professor
Nelson Lutaif, vindo de Taquaritinga, vizinha da minha Itápolis,
docente do Grupo Escolar Feliciano Salles Cunha, também Dona
Mercedes, professora de Prendas Domésticas e Trabalhos Manuais da
Escola Normal, conheci a jovem professora Jorgina Buchidid, vinda
de São José do Rio Preto, que trabalhava na Escola Normal. O
ambiente era excelente, longos papos, toda informação necessária
sobre a cidade, as instalações confortáveis e bem cuidadas por Dona
Maria Durante, a bondosa esposa do Sr. Rodolfo.
À tarde daquele mesmo dia, fui com Amim, o Toledo e o Nelson,
conhecer o Bar do Abílio, em frente ao Hotel. Fui apresentado ao
Abílio, com quem me simpatizei de cara. O Bar do Abílio era grande,
tinha quatro portas largas, sendo à esquerda a parte de restaurante,
no meio as instalações do bar, com mesinhas para a freguesia e à
direita, a mesa de “snooker”, mesa oficial de ótima qualidade.
Jogamos algumas partidas de sinuca e em seguida fomos andar pela
cidade. O Toledo precisava fazer uma ligação interurbana, por isto
fomos com ele até a Agência da Companhia Telefônica, a CTB, que
ficava na Rua 26 de maio, entre a Rua São João e a Monteiro Lobato,
vizinha de onde era a loja do Sr. Félix Buissa. Era uma casa velha,
mal cuidada, cuja entrada tinha até mesmo um barranco. No caminho os
colegas me mostraram o prédio do Aprazível Clube que era situado na
Rua Osvaldo Cruz, num prédio antigo e simples, penso que onde é hoje
o restaurante do Riskalla. Se não me falha a memória, o prédio era
assobradado. Fomos até o Jardim da Praça, completamente diferente
do que é hoje, com canteiros cercados de vegetação amoldada, com
árvores ornamentais podadas em formatos de animais. Tudo aquilo me
causava admiração, era novo para mim.
Já anoitecia quando descemos a 26 de maio e pude ouvir o som
do Serviço de Alto-falantes de Monte Aprazível, cuja cabine ficava
onde é hoje a agência do Bradesco, em frente à Igreja Matriz.
Cheguei a cumprimentar o locutor, cuja voz e expressão me causaram
ótima impressão. Tratava-se do futuro dentista, futuro aluno e
amigo, meu querido Ivan Rui. Meu primeiro dia na antes imaginária
Monte Aprazível estava chegando ao fim. Um papo entre os colegas,
um cafezinho amigo, oferecido pelo Sr. Durante e Dona Maria, a
apresentação de seus filhos ainda meninos, o José, o Tony e a
Rosana.
Eu não via a hora de entrar numa sala de aula e de conhecer
meus alunos. Aquela noite sonhei com a viagem de trem, com as
fagulhas da locomotiva que invadiam a janela, com o nordestino que
viajava no meu vagão e fazia pregação da Bíblia ao estilo
evangélico. Sentia-me confortável, tudo que aconteceu naquele dia
marcante de minha vida foi cercado de simpatia, de generosidade e de
ótimo acolhimento.
A cidade era pequena, de todos os pontos que você olhasse, via
um cenário campestre. O que me impressionou muito favoravelmente foi
o ar alegre e bem humorado das pessoas, havia entusiasmo a percorrer
as ruas, era sem dúvida uma terra de gente boa e generosa, não
demorou nada nada para que eu me enamorasse dela. |