Histórias que não
foram escritas
Diário de Itápolis XVI |
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Na minha mais tenra Itápolis, nos saudosos anos 30 e 40, a cidade tinha tres grandes pontos de convergência: a Igreja, e aí me refiro à Igreja Católica, o Oeste F.C., bicho-papão na nossa região e o Colégio Estadual e Escola Normal “Valentim Gentil”. Havia pontos secundários de interesse, como o
cinema, o Boulevard, o “footing”, que a maioria pronunciava “futi”, o Serviço de Alto Falantes de Itápolis, que funcionou num anexo da Alfaiataria Lapenta, conduzido então pelo vibrante Ludovico Del Guércio, posteriormente passou a funcionar na Valentim Gentil, defronte onde é hoje a Padaria São Dimas e aí era animado pelo locutor de fala mais mole que já existiu, o João Amaral. Outro ponto de reuniões eram as barbearias, onde pontificavam o Torricelli, cujo salão ficava bem atrás da Matriz\e onde o assunto preferido era o glorioso Oeste F.C., em cujo esquadrão o Torricelli era figura indispensável, o Zezé Celli, que já foi retratado aqui, o Dorfinho, lá na Campos Salles, os que guardei na lembrança
Mas, pra nós jovens, o Colégio era o grande orgulho pra quem cursava, o grande alvo pra quem almejava e a enorme saudade pra quem já passara por lá. Sua quadra de Basquete e de Vôlei ficava lotada em dia de jogo; aquele quarteirão ficava iluminado pelos holofotes que expandiam luz e entusiasmo ao centro da cidade. As meninas brilhavam pela técnica e pela beleza, os rapazes pela técnica, pela garra, pela elegância e educação esportivas. Atletas como a Lourdinha Garcia, a Nicinha Galvão, a Nilza de Oliveira, a Ondina Polachini, a Odisséia Cauduro, a Vera La Laina, e tantas outras, causavam frissons na arquibancada sempre lotada; do lado masculino os mais destacados eram os irmãos Monzillo, o Nicalo e o Nejão, os irmãos Mendes, o Laert (Pola) e Laércio (Polinha), o Hélio Sene, os irmãos Galvão, Nilton e Nelsinho, o Tabajara Stocco, irmão do festejado Cajabi, que brilhava nas quadras da Capital, e outros craques.
Grande orgulho dos itapolitanos de então, era o quadro de professores do Ginásio, da Escola Normal e mais tarde, do Colégio. Quando eu ainda cursava o Grupo Escolar, me lembro de ouvir louvores à sabedoria e competência dos excelentes professores dos anos 30 e 40.
No Latim, brilhava o professor Abelardo, aquele homem alto, magro, imberbe, que não só dominava a língua dos antigos romanos, como o grego e o francês; na Matemática cintilava a estrela do professor Marão, careca e robusto, exigente e rigoroso; no ensino do Português a figura inesquecível do professor Aureliano, cujo nome os alunos gostavam de repetir completo: Aureliano Castelar de Franceschi, porque soava gostoso como as aulas dele. No Inglês, que começava na 2ª série (hoje 6ª), a figura simpática, querida e divertida do saudoso e inesquecível Professor William Tamerick, aquele estoniano dócil, fala mansa, autor de grandes “tiradas”, arguto, bem humorado e por quem, nós alunos, nutríamos verdadeira paixão! Estudei línguas em Itápolis e na Faculdade de Filosofia da Rua Maria Antônia, da USP, mas posso afirmar sem medo de ser injusto: o francês que levei daí, das aulas da excelente e rigorosa Dona Dalva Nery Caivano me levaram a brilhar na Faculdade, a ponto de ser indicado pelos mestres franceses do curso de Letras Neolatinas, para a cátedra da primeira unidade da Unesp, fundada em 1957. Inglês não cursei mais, mas o que aprendi com o professor Tamerick foi suficiente pra eu consultar compêndios editados na Inglaterra e para ajudar colegas do curso de Anglogermânicas a traduzir textos em inglês. |