Dois troncos de uma
grande família aportou em Itápolis, vindos do Vale do Paraíba,
durante a última quadra do século XIX, os que assinavam Costa Sene e
os que tinham em suas certidões de nascimento o sobrenome de
Oliveira Sene. Alguns vinham grafando seus nomes com dois enes “nn”,
outros com um só. O que eu sei, por relatos dos mais velhos é que os
Sene ou Senne eram muito unidos, seus laços eram estreitos, e esta
harmonia perdurava ainda durante toda minha infância e juventude.
Eram comuns os encontros, as visitas, todos nos chamávamos de “parentes”.
Era difícil que um Sene cruzasse com outro Sene sem que houvesse uma
paradinha para um dedinho de prosa.
Vamos focar hoje os
Costa Sene, tarefa mais cômoda para mim por ser o ramo da minha
família materna. O chefe daquele tronco dos Sene era Orestes da
Costa Sene que, logo que se instalou em Itápolis, passou o bastão
para seu filho mais velho, Orestes, conhecido como “Caboclo”,
meu avô. Já falei dele em outras crônicas, mas não de sua numerosa
família. O Orestes, meu bisavô, era casado com a Vó Loreta, como era
chamada na família. Tiveram vários filhos: além do Caboclo,
advogado, o Antenor, farmacêutico, o José (Zeca), contador, o
Jorge, funcionário público, o Eduardo, agrimensor e o Elpídio,
também farmacêutico; o grupo das mulheres era menor: a Olívia e a
Maria, ambas de prendas domésticas, pois naqueles anos do noviço
século XX era raríssima a mulher atuando fora do lar.
Em poucos anos estes
rapazes e estas moçoilas constituíram suas famílias, mesclando-se às
famílias itapolitanas. O mais velho casou-se com uma moça cuja
família vinha de terras fluminenses, a então pequena cidade de
Vassouras. Os Moraes instalaram -se todos em Itápolis. Maria Isabel,
a Nenê, casou-se aos 13 anos de idade com o Caboclo. Seu irmão, José
Quirino casou-se em Novo Horizonte com a “tia Esther”e por lá ficou.
A outra irmã, Isabel Maria, a Belinha, casou-se com o “tio Telêmaco
Fernandes”, cartorário e foi viver em Garça, na região de Marília. E
a família continuou crescendo. O Antenor casou-se com a professora
Maria Augusta Pousa, o Zeca casou-se em Barretos com a mineira de
Jacuí, Francisca Moraes, a “tia Chiquinha”; o Jorge com a Ana
Marinato, o Eduardo se juntou à família Maccagnan, de Matão,
casando-se com Leonilda, a “tia Didi” e o caçula, o Elpídio
desposou a “tia Mariana”,da família Mello. Tia Maria casou-se com
Victor Celli, o “tio Victor”, a tia Olívia casou-se com Antô0nio
Rodrigues. Alguns anos depois da morte da tia Chiquinha, soube que o
tio Zeca, já em São Paulo, casou-se com uma antiga namorada de
juventude, a Dona Carlinda, da família Morato.
E logo começou a
formar-se a terceira geração dos Costa Sene de Itápolis. Começando
pelo Caboclo e a Nenê, meus avós, que tiveram oito filhos, um homem
e sete mulheres, só o homem, o Orestes Neto, não se casou;
farmacêutico que era, entrou na campanha contra o tifo, doença
infecciosa que vitimou muitos itapolitanos e contraiu a doença,
vindo a falecer ainda jovem. Orestinho, “Tinho”, como o chamavam, já
era o único homem da família, pois o Caboclo morrera anos antes, em
São Paulo, para onde fora para trabalhar no Tribunal de Alçada,
deixando viúva aos 37 anos, minha “Vó Nenê”. A mais velha das
mulheres, minha mãe, Isabel Maria, casou-se com Vicente Nigro,
filho de imigrantes italianos. Logo depois dela, casou-se a Loreta
com o mineiro João de Campos, gerente da antiga “Pernambucanas”;
depois foi a Lucila, que se casou com Manoel Ramos, meu padrinho de
crisma, filho de fazendeiro português, proprietário da Fazenda 3
Barras; não demorou foi a Abgail, a conhecida professora Dona Bibi,
que se casou com Belmiro Rondelli, comerciante filho de italianos; a
Santinha, a quinta das mulheres, casou-se com Domingos Lalaina,
filho de imigrantes; a Maria Isabel, a tão conhecida Dona Bizuca de
Borborema, casou-se com o filho de imigrantes portugueses, Antônio
de Carvalho Martins e finalmente a Maria Cristina, formada
professora em Catanduva, casou-se com um moço de lá, italiano
naturalizado, José Capone.
O tio Antenor e a
tia Maria Augusta tiveram o Octacílio, filho único, engenheiro
especializado em Hidráulica que atuou como Catedrático da Escola
Politécnica da USP. O tio Zeca e tia Chiquinha tiveram vários
filhos: o Sebastião (Zizinho), o Wilson, que morreu ainda
criancinha, a Araci, a Gessi, o José, o Alfredo, a Maria das Dores e
o caçula, João Paulo, que também faleceu ainda criança; o tio Jorge
e a tia Ana tiveram só a Marina; o tio Eduardo e a tia Didi tiveram
o Álvaro (Alvinho), a Maria de Lourdes (Lurdinha) e o Rubens
(Rubinho); o tio Elpídio e a tia Mariana tiveram seis filhos: o
Décio, o Hélio, o Célio, o Fábio, a Maria Lúcia e o Elpídio Jr. Das
mulheres, a tia Olívia e o tio Antônio tiveram uma só filha, a
Laura, minha madrinha, esposa do comerciante português Manoel
Pereira Borges, que foi dono da Padaria “A Lusitana” e do bar
“Boulevard Itápolis”, famoso ponto de encontro dos itapolitanos dos
velhos tempos. A tia Maria e o tio Victor tiveram o Orestes,
motorista conhecido como Orestinho Sene, a Mariinha, o Demétrio
(Dedé), balconista da farmácia do tio Antenor, a Enédina e o
Nicanor, falecido precocemente.
Aí estão,
enumerados, os “originais” do tronco dos Costa Sene. Éramos todos
parentes, sempre nos afirmando parentes. Mas o convívio de nossas
famílias não se limitava aos Sene que levavam o precedente Costa. A
ligação com os Sene do tronco dos Oliveira Sene era intensa e sempre
viva, enquanto pude conviver com todos, naqueles anos de minha vida
na minha terra natal. A casa de minha vó Nenê, a minha casa, na
verdade todas as casas dos Costa Sene recebiam os Oliveira Sene com
muita frequência e vice-versa. Lembro-me do Nhô Firmo e da Nhá
Silvéria que, já bem velhinhos, apareciam vez por outra lá em casa.
E seus filhos João, Sebastião, Aparecidinha e Chiquinha eram gente
de casa. Estes, o pessoal do
Romeu e a grande família do Narciso, serão assunto da próxima
crônica. |