Histórias que não foram escritas Diário de Itápolis - Campanhas Eleitorais e Comícios |
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Vamos falar um pouco mais sobre as campanhas eleitorais dos anos 40 e 50, já que logo no começo dos anos 60 a frágil democracia brasileira sofreu uma pesada interrupção, que só veio terminar em 1985, isto é, 21 anos depois.
Como não havia propaganda obrigatória gratuita, os governos, tanto dos municípios, como dos estados e o governo federal não dedicavam nenhum centavo com as campanhas, pelo menos de forma lícita. Os candidatos e seus partidos é que patrocinavam a propaganda. Como não havia televisão, os candidatos tinham que por a cara na frente do povo nos comícios, que eram feitos nas praças públicas, numa esquina do centro ou da periferia, ao ar livre, em cima de um palanque, às vezes de um caminhão, quer dizer, com a cara e a coragem, diante das pessoas, que ali
compareciam por vontade própria. Como vêem, os postulantes a cargos públicos não se escondiam atrás de marqueteiros, como acontece hoje. Outra diferença naquelas eleições é que o vice, tanto do presidente, como do governador e também o do prefeito recebia o voto do eleitor, portanto, você votava no vice! E o melhor é que o vice não tinha que ser do mesmo partido do titular. Por isto, você podia ter o prefeito do PSD e o Vice-Prefeito do PTB; o vice podia ser de outro partido aliado ao do prefeito, como podia ser da oposição. Um exemplo foi o presidente Jânio Quadros, eleito pela UDN, que teve como vice João Goulart (o popular Jango), que era do PTB, que fazia oposição ao Jânio. Hoje a gente não escolhe o vice, este vem embrulhado no mesmo pacote do titular, o que deprecia enormemente o cargo. E olha que os vices têm sido importantes na nossa história contemporânea: José Sarney tomou posse no lugar do titular Tancredo Neves; o vice Itamar Franco substituiu o deposto Presidente Collor, o vice do governador Mario Covas, Geraldo Alkmin o substituiu
no governo de São Paulo por uma boa parte do seu mandato. E nenhum deles tinha sido escolhido pelo eleitor. Por estas e outras, penso que a nova democracia brasileira, que se instalou com o fim, em 1985, da ditadura militar, apresenta alguns aspectos falhos se comparada com o sistema anterior à ditadura. Mas, vamos falar da nossa democracia, do sistema itapolitano de eleição. Na campanha do candidato Toninho Vessoni houve um comício muito concorrido, realizado à noite, na esquina da Valentim Gentil com a Rio Branco , com a presença de vários deputados como Juvenal Sayão, Eduardo Keffer, pra citar alguns. Soltaram uma bomba no meio do povão. Foi aquele alvoroço, aquele corre-corre. Do meu lado estava o saudoso Geraldo Hauers, o Baianinho. Quando ele viu aquela confusão, com as luzes da rua apagadas, a fumaça da bomba, ele olhou pros companheiros e gritou: “Gente, é o fim do mundo! Vamos passar a mão nas moças, vai acabar mesmo!” No outro sábado, o partido contrário fez um comício em Tapinas. E o locutor oficial, encheu o peito e proclamou: “Povo de Tapinas! Nós não trazemos aqui nenhum deputado, nenhum senador, nenhum figurão, nós trazemos pra falar pra vocês o ilustre tapinense Carlito Rolla!” – do meio do povo, um italiano de uns 60 anos, comentou: “Bella roba!”, que na língua dele queria dizer “bela porcaria!” Noutro comício ainda em Tapinas, um vereador da terra começou o discurso proclamando “Povo de Tapinas, a menina dozóio d’Itápolis, por isto que eu digo e repito, O que seria do Brasil, se não fosse Tapinas?” E você imagina agora o tamanho que era Tapinas, nos idos 1951! |