Histórias que não
foram escritas
No tempo em que nesta boa terra eu vivi, muitas eram as pessoas que, como relatei na crônica passada, embora sem títulos e sem “pedigree”, se projetaram na vida da cidade, tornando-se senão muito amadas, ao menos muito comentadas.
Lembro-me bem do nosso vizinho, Sr. Ernesto Branco, que morava a um quarteirão e pouco mais de nossa velha casa da Francisco Porto. Eram três os membros da família, o pai, a mãe e um único filho. O Sêo Ernesto, como era chamado trabalhava com sua carroça no transporte das sacas de café já beneficiado desde a máquina do fazendeiro Carlos Vessoni até o depósito que este mantinha na esquina da Francisco Porto com a Bernardino de Campos, na verdade um anexo de seu casarão, que comportava até um terreiro para secagem do café em coco. Concluída a jornada de trabalho, sempre sobrava tempo para um bate papo ao Sêo Ernesto, sempre bem educado, cavalheiresco e boa pinta. O casal tinha um único filho, o Deolindo, que cresceu ali no nosso bairro, cursou o Grupo Escolar, o Ginásio (lembro-me de vê-lo passar uniformizado com a farda cáqui dos ginasianos de então) e logo pegou no batente. Foi por um bom tempo balconista da Casas Pernambucanas, que funcionava, nos anos 30 e 40, na loja onde é hoje “Ao Preço Fixo”, mais precisamente, na esquina da Valentim Gentil com a Rio Branco. O gerente das Pernambucanas de então, era o Sr. João de Campos, mineiro pacato que era meu tio por ter-se casado com uma das irmãs de minha mãe, a tia Loreta. Tio João era fissurado em caju e como no nosso quintal havia 3 cajueiros que carregavam durante a safra, ele era freguês assíduo de nosso quintal. E lembro-me bem que, quando minha mãe lhe perguntava como ia a loja, ele sempre dizia “vai bem, principalmente agora que temos o Deolindo como vendedor! Campeão de vendas!” A moça da Caixa era minha prima Abgail Sene, filha mais velha da Sebastiana e do Chico Sene, “camarada” da Prefeitura.
Já no início da década de 50, quando já ia longe o tempo de gerente do tio João, o Deolindo (a gente o chamava, na verdade, de Diolindo), abriu uma pequena loja, Casa São João, em sociedade com o Neme Nagib Cury, casado com Georgete, filha da dona Maíba, num prédio pertencente ao Sr. Antônio Compagno, ali na esquina da Valentim Gentil com a José Bonifácio, atual José Trevisan. A Casa São João trabalhava com tecidos e confecções e tinha como vizinhos comerciais, a Livraria e Papelaria do Professor Morato, a fábrica de colchões do Próspero, a Casa Wady e a farmácia do Jaci e do Carlito Tucci. Bem, logo depois da abertura da Casa São João, deixei Itápolis para os estudos e a vida aliada à profissão me afastou do convívio cotidiano com meus patrícios. Já estava eu em São José do Rio Preto como professor da Faculdade de Filosofia, quando comecei a ouvir falar numa grande empresa de Itápolis, a Branco Peres. Era o meu velho conhecido e vizinho, o Diolindo (ou era Deolindo?) Branco, que despontava como forte empresário no cenário da agroindústria brasileira. O Branco vinha de seu pai, o Sêo Ernesto, o Peres de sua mãe, uma senhora tão discreta e caseira que nem seu nome era conhecido da maioria dos seus vizinhos. Como descendentes de espanhóis, usavam o sistema de seus ascendentes que registravam seus filhos colocando primeiro o sobrenome do pai e por último o sobrenome de solteiro da mãe. Diolindo casou-se com Wanda Januzzi, irmã de um grande amigo e colega professor, o Geraldo e filha de um amigão de meu pai, pedreiro de primeira linha. O filhos do casal já falecido seguem em frente como empresários e certamente têm muito orgulho do pai que tiveram, um moço que trilhou o caminho dos vencedores, de forma discreta, mas competente. A história deste moço é uma das muitas sagas de figuras que desabrocharam em arbustos antes despercebidos. |