Lendo uma reportagem sobre o alto crescimento dos índices de obesidade
infantil em nosso país, me pus a pensar no porque de tamanha
diferença diante das crianças de antigamente, quando eram
raríssimos os casos de obesidade entre elas. E me pus a comparar
a vida de uma criança de hoje com a vida que levava a infância
em tempos idos.
Nos velhos tempos, a criança levantava-se, depois de muitas horas de sono,
tomava o café da manhã composto de uma xícara de café com leite,
pão com manteiga e estava pronto pra pegar sua lancheira e tomar
o rumo da escola. Em sua primeira refeição não havia
achocolatados, geleias, cereais adocicados e outros complementos
que lhe são oferecidos nos tempos atuais. Como poucos tinham
carro, e os que o tinham o usavam pouco, o menino, a menina, iam
e voltavam a pé de sua escola. Durante o recreio o aluno comia
um lanche simples, preparado em casa, brincava de pega-pega,
trepa-trepa, batia uma bolinha de meia, enfim, movimentava-se
até o toque do sinal, voltando suado para a classe.
Voltava pra casa, a pé, é bom lembrar, almoçava, geralmente sem
refrigerantes nem sobremesas; naqueles tempos a sobremesa só
aparecia nos domingos, feriados, dias santos de guarda e os
refrigerantes eram servidos em dias de festas, aniversários,
batizados, Páscoa, Festas de fim do ano. A comida era preparada
com temperos naturais, não havia caldo de galinha, de carne, de
legumes, tudo prensado em tabletes, não se sabia da existência
de gordura trans, gordura saturada, a maior parte dos alimentos
era preparada com gordura animal, (banha de porco, por exemplo),
tínhamos pouca variedade em tipos de óleo: o de algodão e o de
amendoim.
Depois do almoço a criança ou ia fazer suas tarefas escolares, conforme as
determinações dos pais, ou ia brincar, ficando os deveres para o
fim da tarde. Ia brincar, mas brincar do que? Os meninos se
encontravam com os garotos da vizinhança e variavam seu
brinquedo entre jogar bola, soltar papagaio, jogar pião (é pião
mesmo que se escreve – peão é domador de montaria). Como veem
eram brincadeiras que exigiam movimentos, alguns, como
esconde-esconde, pega-pega, pé-na-lata, eram de dar canseira.
Brincavam até serem chamados pela mãe, fosse para tomarem banho,
fosse para fazerem as lições. Jantavam, geralmente uma comida
mais leve, feita em casa e voltavam pra rua brincar com seus
amigos da vizinhança, sempre se movimentando até suarem.
E as meninas? As meninas tinham uma vida bem parecida com a dos meninos. O
ritual diário era o mesmo, a alimentação também, raramente
andavam de carro; como os meninos, algumas, em menor número,
usavam a bicicleta, brincavam com carrinho de rolimãs, com o
patinete, coisas que punham o corpo em movimento. A boneca era
indispensável, suas formas eram variadas e feitas de materiais
diversos; as mais comuns, de baixo custo, eram as de papelão e
as de pano. Havia bonecas lindas, de louça ou de porcelana, com
olhos que mexiam, piscavam, conforme moviam seu corpo. E todas
representavam a criança, desde o bebê, até a menina-moça. Nossas
meninas ainda não tinham sido contaminadas pelas Suzies e pelas
Barbies, réplicas de criaturas anoréticas que não tiveram
infância e não merecem o título de bonecas. A diferença está em
que a boneca antiga, de criação e fabricação nacional, quando
não caseira, quanto mais simples eram, melhor desenvolviam a
criatividade imaginativa das meninas. Enquanto que as
anoréticas, pela magreza e pelo estilo “fashion”, já vêm
prontas, com versões também prontas para se tornarem
enfermeiras, noivas, aeromoças, etc. Sem chance para a
imaginação, sem chance para serem vestidas conforme a ideia
nascida na mente da sua dona.
Tudo, na vida da criança, alimentação, ida à escola, brinquedos,
brincadeiras, tudo exigia movimentação física, energia
imaginativa, Mesmo os brinquedinhos mais simples, como o
bambolê, o bilboquê, o macaquinho do trapézio, o cavalo de pau,
a borboleta que batia as asas conforme a criança movia a haste
de madeira onde vinha presa, a gangorra improvisada, o sapo
voador (colocavam um sapo vivo sobre a extremidade de uma tabua
disposta sobre uma pedra grande, desciam a marreta na
extremidade alta e o sapo era arremessado às alturas, para a
diversão da criançada.). Tudo era muito movimentado e não
acenava nem de longe para o sedentarismo que afeta a criança de
hoje. Tudo estimulava a criatividade, porque nada vinha
totalmente pronto.
Alimentação natural e saudável, atividades físicas constantes, fecunda
criatividade, ausência do sedentarismo motivado pelos jogos
eletrônicos, pelo vício da televisão, do computador, do “tablet”,
do celular, maior disciplina imposta pelos pais, como dormir
cedo, alimentar-se bem, sem guloseimas artificiais, beber água
(tem criança que já esqueceu qual é o gosto da água!) Eu acho
que aí está a diferença! |