Na minha mais tenra Itápolis os bailes eram um estimulante convite à
sociabilidade, ao enlevo oferecido por músicas ricas em melodia,
ritmos variados, estilos de danças diversificados. Sociabilidade aí
significa encontro do diálogo entre os dançarinos, da conversa entre
os amigos e as famílias que se encontravam no recinto; melodia,
ritmo, estilos eram componentes naturais em uma época em que os
ouvidos estavam habituados à composições bem elaboradas, arranjos
muito bem feitos, os olhos acostumados à dança em movimentos
sincronicamente ricos em criatividade e perícia.
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A elegância e a
beleza da dança são inesquecíveis, principalmente nos
Bailes de Formatura |
Este
estilo de baile ainda durou muitos anos, evoluindo conforme novos
ritmos e novas formas de bailar iam surgindo, mas continuavam sendo
dança. Eram tempos do apelo ao coletivo, do impulso ao encontro, ao
unir-se, ao convívio, ao ato social por excelência. O ser humano era
convergente, buscava ser coletivista e ainda sonhava em construir
uma sociedade ainda mais solidária, altruísta, igualitária. E este
modo de viver e de pensar se refletia em todas as atividades do
homem, e o ato de dançar também espelhava isto.
Havia
mais instrumentos nas orquestras, por mais simples que fossem e
consequentemente mais componentes humanos na execução das músicas;
os rapazes e as moças se juntavam, formando pares unos no ato de
dançar; nas mesas as pessoas se comunicavam, assistiam a tudo,
dançarinos, orquestra, vestuário, comportamento, tudo que se passava
diante de seus olhos. Havia um congraçamento entre famílias, amigos,
colegas de escola e de trabalho. Tudo porque se podia conversar e
conversar é essencial para o convívio.
Os
tempos mudaram! Mudaram tanto que às vezes penso que adormeci,
entrei em letargia e acordei num mundo diverso, onde as pessoas não
se falam quando estão perto umas das outras, precisam se afastar
para falar pelo celular, ou para teclar pela internet. Os bailes,
tanto nos salões como nos fins de festas de aniversário, casamento e
outros eventos, bloqueiam o diálogo, o barulho das famigeradas
caixas de som é tão violento que mesmo gritando no ouvido do outro é
impossível que ele entenda alguma coisa. A execução das “músicas” é
de uma pobreza que beira à indigência, com seus teclados produzindo
sempre os mesmos acordes, com os surdos arrebentando os tímpanos e
os “modernos” DJs (dijeis) raspando discos. Os que dizem que estão
dançando, na verdade estão praticando alucinante malhação, em
arroubos de expressão corporal, num isolado individualismo que é o
testemunho mais gritante da incapacidade de tocar seu próximo. Já
tivemos a “era do gelo”, “idade da pedra”, “época do regtime”, hoje
vivemos a “era do egoísmo” em todas as suas formas de manifestação.
Nunca foi tão apropriado o famosos “bloco do Eu sozinho”. Parece que
a marca do Novo Milênio é o retorno dos homem às cavernas. Pintam o
corpo, engancham penduricalhos em partes diversas do corpo, tingem
os cabelos com cores berrantes. Cada vez mais comuns se tornam os
atos primitivos que caracterizam a violência contra os semelhantes:
esquartejamento, espancamento até à morte, seres humanos lançados
das janelas, como os trogloditas lançavam desafetos aos precipícios,
pelos penhascos.
Para
onde caminha nosso mundo? Por que caminhos se está embrenhando a
humanidade? Eu que não acreditava no fim do mundo, estou pensando
seriamente em rever meus conceitos |