Histórias que não foram escritas

Orestes Nigro

"Meu desconfiômetro vem-me alertando há tempo"

Você sabe, se não sabe fique sabendo: todos nós recebemos, ao nascer, um dispositivo psíquico chamado desconfiômetro.  Sua função é avisar-nos: -“Olha, você não está agradando, pare com isto!”  Como todos os órgãos e recursos de nossa anatomia e de nosso sistema sensitivo, uns são perfeitos, funcionam muito bem, outros podem apresentar grandes ou pequenos defeitos.  O desconfiômetro tem que ser discreto, ponderado e preciso, pondo seu alerta a funcionar só depois de analisar bem a causa de sua desconfiança. Mas também não pode demorar muito para entrar em ação, pois isto pode causar danos ao seu portador.
            Dito isto, faço-lhes uma revelação: meu desconfiômetro vem-me avisando que minhas crônicas vêm perdendo o interesse de meus leitores. Como assim? Ora, amigos, antes eu recebia cartas, e-mails, até telefonemas e SMSs com comentários, sugestões, correções, informações suplementares, elogios e até um desses leitores me chamou de “velho babão, puxa saco, e outros predicados”.  

Os Correios não estão em greve, que eu saiba e as cartas sumiram, tenho dois celulares, telefones fixos um aqui em Santos, o outro em São Paulo e nenhum leitor me liga há meses, nenhuma mensagem, nada.  Meu volume 2 de “Histórias que não foram escritas”,  está praticamente pronto para ir para a gráfica e eu não tenho coragem de mandar imprimí-lo. E por que? Ora, meus queridos, os fatos que me avisam são claros. Qualquer bobagem que posto no Facebook tem imediata reação dos meus amigos reais e virtuais, ou comentando, compartilhando ou simplesmente curtindo.  Antes, quando eu anunciava que minha crônica semanal estava no ar, inúmeras curtidas, comentários vinham à tona. Fato animador! Concordam?  Agora eu anuncio, passam-se dias e nenhuma curtida, nenhum comentário! Fato desanimador! Concordam?  
            Como o volume trata da “família itapolitana dos velhos tempos, seus costumes, sua forma de agir, de viver seus dias”,  fiz vários pedidos para que nos enviassem fotos antigas, ao Valentim Baraldi, ilustrador do livro, ou ao Sinibaldi Del Guércio Fº, editor, ou mesmo a mim, que lhes repassaria. Até agora, pouquíssimas nos chegaram. Péssimo sinal, não acham?  Alguns poderão dizer que as pessoas esquecem, que têm preguiça, não acho um argumento válido. Quando é mandar para o Arquivo Itápolis, ou se é postar no Facebook e outras redes da Internet, despejam um monte de fotos. Aí não têm preguiça, nem esquecimento. Então, o que pode ser? É aquilo de que desconfio!  Meus escritos deixaram de interessar, diz-me meu desconfiômetro.  E estes alertas constantes, mais os testes que já fiz, tiram-me o ânimo, enchem-me de dúvidas. Imaginem alguém mandar imprimir 1000 exemplares de um livro, depois vê-los embolorar, encalhados, desprezados. Ah, não!
            E olhem que o volume 3 já está encaminhado, numa complementação do volume 2. São inúmeras famílias que ainda faltam. Ainda não falei dos irmãos Botini, dos Bergamaschi, dos Cogo, dos Nori, dos Guidorzi, dos Destro, dos Cavichiolli, dos Buriham, dos Bucalém, dos Ferrari, dos Maradei, dos Biella, dos Mercaldi, dos Franco, dos Coelho, dos Rocha, dos Arruda, dos Palhares, dos Galvão de França, dos Cardilli, dos D’Agostini, dos Puzzi, dos Zuliani, dos Fiani, dos Gianzanti, da família do Janes de Mello, da família do Daltanhan dos Reis, da família da Rosinha Sendon, da família dos Travensolo, olha, amigos, de muita gente, eu conheci todo mundo desta minha terra!. Alguns destes já estão escritos e guardados. É justo que eu publique o volume 2, aí ele encalha e eu desisto do volume 3?  É justo? Claro que não é! Juro que eu estou vivendo um dilema irritante, um drama de consciência. Desculpem o desabafo, impossível contê-lo. Afinal, nem xingar não me xingam mais! O que é isto?