Histórias que não foram escritas

Orestes Nigro

"Retomando a jornada"

 

As Festas já se foram, as férias logo se vão, as saudações e os abraços vão silenciando e se recolhendo, e a vida vai retomando seu ritmo, as pessoas voltam a mirar seus objetivos comuns, que se resumem em cuidar da própria vida, e assim vai girando a roda viva da existência. A gente dá uma trégua aos agradecimentos e retoma o ato de pedir. Rogar para que a vida transcorra sem sustos, sem perdas, sem lágrimas de tristeza ou de desespero, pedir pela conservação da plena vida, das pessoas e das coisas  já  conquistadas, pedir a proteção dos céus, pedir pela garantia do pão de cada dia,  pela continuidade de uma vida digna, enfim, pedir pela manutenção da rotina que nos dá a agradável sensação de estarmos em segurança.

O início de um novo ano se compara ao ato de pegar a estrada, reiniciar uma longa viagem que se arrastará durante 365 dias, viagem que a gente já fez tantas vezes, mas não sabe seus meandros, as surpresas que poderá encontrar depois de cada curva, depois de escalada cada colina, após haver atravessado os túneis. A partida é quase sempre alegre e alvissareira, cheia de sonhos e de esperanças que o desconhecido pode frustrar e apagar. Toda esta incerteza nasce do fato de que cada nova viagem se faz em nova estrada. Cada ano que se vive é sempre diferente dos demais. Você está pelo menos um ano mais velho do que no início da outra viagem, você carrega tudo que foi novo no ano que você atravessou e sabe que a nova estrada poderá surpreender a cada minuto, a cada hora, a cada dia; você sabe que sua nova caminhada poderá revelar coisas, pessoas e fatos que você nunca experimentara antes, o que a torna um desafio.

Quem já viveu longo tempo pode ver hoje quantas coisas que pareciam eternas e desapareceram. Pessoas, famílias inteiras, suas casas, seus bens morais e materiais, suas conquistas, seus sonhos ainda a realizar, tudo sumiu, engolido pelo profundo e infinito buraco do tempo, que suga tudo alimentado por tantos anos novos,

O ano que passou surpreendeu os itapolitanos com o ruir das paredes, do telhado e do lindo frontispício da fachada do nosso Cine Theatro Central, que deixou um vazio no coração da cidade. Mas este vazio só ficará no coração que bate em cada cidadão que cultua a história da cidade, porque o “vazio” terreno onde esteve nossa casa de sonhos, já deve estar preenchido por novas paredes, novo telhado, nova fachada. Para aqueles que não curtiram o velho cinema que nele funcionou para várias gerações, sua lembrança que já era tênue, já deve ter-se apagado. Para os que o curtiram na infância e na juventude, ela resistirá enquanto vivermos. Cada um de nós que partir deste mundo, levará um tijolo, uma telha, uma viga até que  sua arquitetura que já virou esboço, desapareça.

Quantas alegrias, quantas criancinhas fofinhas, quantas conquistas, quantas vitórias vão eclodir neste novo ano? O que será que irá ruir nesta nova jornada de 2014? Não sabemos, nem queremos saber, se não pudermos socorrer, impedir ou reerguer. Aí reside o encanto do Ano Novo, como aí também reside o sinistro que pode estar no seu bojo.

Eu pretendo continuar meu projeto de resgatar o passado desta terra, suas histórias, suas coisas, suas pessoas, todas as suas famílias. Mas eu também estou iniciando esta nova jornada, sabe-se lá o que vou encontrar pela frente, ou depois da primeira curva. É chegada minha hora de pedir: que Deus onipotente me dê vida útil enquanto achar que eu mereço.  Caminhemos todos juntos, vamos juntos enfrentar este desafio. Com fé, esperança, bondade no coração, teremos chance de chegar.