Histórias que não foram escritas

Orestes Nigro

"Os Bottini, uma vera famíglia"

Estávamos no início da década de 40, ia eu para o Grupo Escolar, quando deparei com um novo carro de praça, cujo estilo e cuja cor me fizeram parar e ficar observando. O ponto dos carros de praça ficava na Rua Padre Tarallo, do lado do Convento e o carro que ficava na frente, geralmente era o Ford Mercury do Sr. Mario Bergamaschi. Naquele dia, como o Sr. Mario devia ter saído para fazer uma corrida, o que se via era um Ford 1940, de cor escura, pintura metálica, e o seu motorista era um homem de cabelos aloirados, magro, de estatura mediana, elegante e que também me chamou a atenção porque usava um par de óculos diferente dos que conhecíamos na época, pois tinham lentes pequenas e não se via o aro, não sei se é porque era muito fino ou se não existia.  Já em casa, na hora do almoço, comentei isto na mesa, então meu pai falou: “Este novo “chofer de praça” é um dos irmãos Bottini, esta família que veio de Tapinas”.

Eram quatro irmãos, que logo ficaram bem conhecidos na cidade, embora mesmo quando moravam em Tapinas, já frequentassem a cidade. O “chofer” do Ford 40 era o Hermes, que tinha um irmão mais robusto do que ele e aparecia sempre dirigindo um caminhão Ford 1000, destes que serviam para pequenos transportes, e se chamava Hugo. Hermes e Hugo já eram casados, depois deles vinham mais dois moços, o Rubens e o Sylvio. Mas a família Bottini não se limitava aos quatro irmãos, havia as irmãs Bottini, a Santina Elisabeth que se casou ainda em Tapinas e foi morar em São Paulo, mudando-se para Itápolis apenas em 1944. Outra que se casou e foi morar em São Paulo foi a Alcídia, que não veio para Itápolis. A terceira filha, a Ida Antonieta, casou-se, teve duas filhas, que quando atingiram a adolescência mudaram-se todos para Campinas e, finalmente a Luiza, cuja vida foi ceifada quando ela deu à luz seu filho Antonio Carlos. Como vêem o chefe da família, Sr. Sílvio Bottini  formou um lar de oito filhos, esta beleza que era típico da época, família numerosa, casa cheia, cada vez enchendo mais.

O Sr. Sílvio Bottini e sua esposa, Dona Elvira Arduim, eram italianos, ele, filho de Miguel Bottini e Santina Finezzi. Seu pai, Sr. Miguel, ficou viúvo de Dona Santina e veio para o Brasil em 1891, trazendo o único filho do casal, Sílvio, o futuro chefe dos Bottini.  Vieram da cidade de Ferrara, província de Codigoro. O Sr. Miguel, já no Brasil, conheceu Dona Elisa Zecheta com quem se casou;  Dona Elisa acabou de criar o menino Sílvio, que veio para o Brasil ainda com seis anos de idade. Como já disse, o Sr. Sílvio, chefe desta grande família, veio de Ferrara, província  de Codigoro, região da Emilia-Romagna que, por coincidência é a região de onde veio aquela com quem ele se casou, a jovem italiana Elvira Arduim, filha de Luís e Luísa Pandi Arduim que, na Itália, viviam em Rovigo, província de Venetto, na mesma região de Emilia-Romagna.

O Sr. Sílvio Bottini, logo que se casou foi morar na região rural de Araraquara, onde ele foi administrador das fazendas Altamira, Tabarana e Sant’Ana.

Voltando aos Bottini que moravam em Itápolis, gente que ficou muito conhecida de todos, a família cresceu. O Hermes, casado com Dona Zelvira Semeghini, teve duas filhas, a Anny Maria, falecida ainda bebê e a Zilah, nascida em Itápolis, nesta data em que escrevo esta crônica, 22 de janeiro. Zilah cresceu, estudou no nosso querido colégio Valentim Gentil, casou-se com um grande amigo de minha família, nosso vizinho Francesco Mortati, o italiano conhecido como Chiquinho, que era cortejado pelas garotas da época, tanto por ser “un bello ragazzo”, como por sua fina educação e conduta irreprimível. Quem ganhou seu coração foi a bela e simpática Zilah.  Chiquinho era irmão do Sr. Michelangelo Mortati, genro de Dona Filomena e Sr. Luciano Armentano, pais de Dona Marietta.  Zilah hoje vive em Londrina, no Paraná, perto de sua filha Daniela, de seu filho Nicola Mortati Neto e de sua neta Juliana, filha da Daniela.

Hugo, que foi funcionário da Casa da Lavoura, era casado com Dona Lúcia Malagolli, com quem teve dois filhos, Arnaldo, já falecido e Luiza. Rubens, que fez carreira na Polícia Civil, acabou indo viver na região de São José do Rio Preto e trabalhou como Escrivão de Polícia na cidade de Neves Paulista. Desde os tempos de Itápolis, Rubens e eu fomos sempre amigos e o destino fez com que nos reencontrássemos em Rio Preto, onde morávamos. Assim pude privar de sua amizade, conhecer sua esposa, a Dona Sálua Izar e tomarmos muitos cafezinhos no famoso Café Pilão, da Rua Bernardino de Campos, onde falávamos da nossa Itápolis. O mais novo, o Sylvio, depois que se formou no nosso colégio, foi funcionário da Secretaria do Valentim Gentil. Casou-se com Dona Neide Aparecida Netto, com quem teve dois filhos, Sílvia Luísa e Sílvio José. Sylvio Bottini seguiu carreira como secretário de colégio, em Catanduva, para onde mudou-se. Eu sempre tinha notícias dele através de minha prima Maria Rita, professora, já falecida.

Das filhas do Sr. Sílvio Bottini, o chefe desta família, pouco posso falar, pois não tive contato e convívio. Eram donas de casa, numa época em que as mulheres viviam no recato de seus lares, enfrentando a lida doméstica e cuidando dos filhos.

(Embora muitos pensem que só os focalizados de minhas crônicas podem sentir-se homenageados, é preciso que eu repita, eu sou o primeiro a sentir-me honrado por focalizar esta gente admirável que formava o mundo encantado em que vivíamos.)