Histórias que não foram escritas

Orestes Nigro

"A nossa Piscina e seus frutos"

 

A famosa "Piscina"

Na minha mais tenra Itápolis havia uma “piscina”, melhor escrever “Piscina”, com maiúscula, pois era uma atração turística da cidade, um espaço de lazer, um ponto de referência. As aspas se devem ao fato de que não era verdadeiramente uma  piscina, na exata acepção da palavra. Aquele açude bem construído, encravado num vale verde, cercado de bancos, vestiários, de quiosques, era mais que uma piscina, era um recanto de sonho, de paz, de encontros. Pelo que me consta seu idealizador, dono daquela chácara, situada a uns 300 metros de onde é hoje a Avenida José Fortuna, era o comerciante, beneficiador de café, Sr. Salim Haddad, que também era conhecido como Salim Ferreira e Salim Ferreira Haddad.

O Sr. Salim residia numa casa vizinha onde é hoje a Spazio Pizzaria, ali na Rua Odilon Negrão. Tinha vários filhos, muito conhecidos da gente itapolitana. O Vitório, a Nádia, o Dr. Emílio, o Dr. Walter e o César, seu caçula. Mais tarde aquela chácara passou para as mãos do Sr. Domício Marconi, que manteve a piscina em pleno funcionamento, além do magnífico pomar e de sua criação de gado leiteiro. Do Marconi a chácara passou para os Leme Torres, onde se criou um menino que viria a ser mais tarde, nos tempos atuais, um itapolitano ilustre, um professor de rara competência e um líder incansável da classe de diretores do Ensino Paulista: Roberto Augusto Torres Leme. Retomei contato com ele por ocasião da comemoração  dos 80 anos da Escola Valentim Gentil, em 2009, quando proferiu um discurso digno de ser perpetuado, tamanha a clareza, a convicção e a propriedade que o caracterizaram.

Dª Dalva e o  inesquecível "Robertão"

Não vi mais o Roberto, embora vez por outra tivesse notícias de seu desempenho destacado junto à UDEMO, o Sindicato de Especialistas de Educação do Magistério Oficial do Estado, do qual foi presidente de 1988 a 2005. O menino da Piscina, agora Robertão, como era conhecido, elevou, na sua gestão, a Udemo à altura de órgão de amplitude nacional. Numa consulta sobre aquela entidade me deparei com esta carta, escrita pela professora e antiga diretora da EE. Valentim Gentil, Dona Dalva Nery Caivano, que eu faço questão de transcrever aqui.

 

“São Vicente, julho de 2013.
UDEMO
Baixada Santista
Dalva Nery Caivano Ex-professora de Francês de Roberto Augusto Torres Leme

Instituto de Educação Valentim Gentil de Itápolis.

 Nós, aqui da Baixada Santista, estamos escrevendo uma carta a Roberto Augusto Torres Leme.

Querido Roberto,

De repente, ficamos sabendo que você havia viajado sem se despedir de ninguém. Para onde? Por quê? No silêncio, em nossa imaginação, abriu-se a imagem de uma jornada, rumo ao eterno. Quem era o personagem a empreender esse rumo? A resposta foi: Roberto Augusto Torres Leme, nosso amigo e protetor. Incansável na luta pela justiça de nossos direitos. Levava a bandeira da paz, com aquele sorriso peculiar, sincero, cheio de esperanças por um melhor porvir.

Era um túnel imenso, com a distância de todos os seus anos de vida, talvez, para que pudesse lembrar-se passo a passo, luta por luta, vitória por vitória... Ali estavam plantadas as raízes de todos os feitos que ficaram para trás. Lá na frente, a luz feérica da eternidade.

Desta vez, querido Roberto, você não foi o anfitrião, como o fizera tantas vezes em nossos encontros, aquele que conduzia o rebanho, você foi o convidado... Convidado de honra!!!

Os anjos e arcanjos entoavam os hinos da glória. Você foi convidado a fazer parte da mesa, onde seu anfitrião, sentado à direita de Deus Pai, iria julgá-lo. Foi recebido com todas as honras de que é merecedor. O Anfitrião pediu sua ficha, leu linha por linha em voz alta, para que todos ouvissem, não só os de lá, mas os daqui desta terra carente de homens como você. Silêncio sepulcral.

Hora do Julgamento Final. O anfitrião pediu que todos se levantassem, estava sendo julgado: nota dez com louvor. Recebeu a medalha de Honra ao Mérito e todos cantaram - Hosana nas Alturas.

Então, querido Roberto, não se esqueça da gente...

Abraços e saudades,

Todos nós”

            Nossa querida Itápolis perdeu um de seus filhos mais ilustres e destacado educador. Em meu nome e de todos os itapolitanos, a homenagem ao menino esperto da nossa velha Piscina.