Histórias que não
foram escritas
Diário de Itápolis - Oeste F. C.
Itápolis continua sendo assunto aqui pelas bandas da capital, da Baixada Santista, onde tenho passado o maior tempo de minha vida de idoso. E o tema que coloca a nossa terra nos bate-papos é o nosso Oeste F,C. A camisa rubro-negra anda causando discussões acaloradas, todo mundo quer saber onde é esta Itápolis que tem um esquadrão que aparece em 5º lugar na tabela de classificação do Campeonato Paulista de futebol, atrás “apenas” de Palmeiras, São Paulo, Corinthians e Santos. E não é uma posição momentânea não, lá se vão algumas rodadas em que o Oeste surge naquela zona de classificação para a fase decisiva. Só isto já é motivo de orgulho para todos nós. Não é a mídia que põe nosso Oeste e a nossa cidade em destaque, não. A imprensa esportiva no nosso país é, de modo geral, bairrista, limitada, provinciana e não consegue enxergar muitos palmos além do centro onde atuam. Por isto o Guaratinguetá fez bonito em certame passado, o Mirassol vem se destacando como o nosso Oeste, mas o assunto no
Globo Esporte, na Band, no Gazeta Esportiva, no Sportv, no ESPN, nas páginas dos jornais, não sai do quadrilátero dos “quatro grandes”; quando muito, algum repórter, filho de padeiro, dá uma notinha sobre a Portuguesa de Desportos. Passou de Campinas, nosso Interior é assunto desconhecido. Mas, nas rodinhas da praça, nos bares, quando o assunto é futebol, o Oeste está sendo um dos “pratos” mais consumidos. Mas eu sou aquele dos anos 30, dos idos 40, dos findos 50, o que que eu tenho que estar metendo o bedelho num assunto tão atual? O Oeste não é assunto atual, não, é assunto de sempre, de muito tempo, desde os idos 1921. Você dirá: “mas agora ele está se destacando como nunca!”, é verdade. Mas esta agremiação sempre se destacou, seu sucesso vem de tempos antes dos meu, e vem do meu também. O Oeste sempre fez boa figura na nossa região, o Oeste tem “pedigree”, tem uma sólida base histórica.
Nos anos 40, tempo em que aprendi a gostar de futebol, foi com o nosso rubro-negro que aprendi o que é um bom “golkeeper” (se diz golquíper” e significa goleiro), um bom “back (se diz béqui” e hoje zagueiro), um bom “center-alf” (fala-se assim mesmo e significa zagueiro central, volante de apoio) e daí por diante. Os grandes craques daqueles anos, que eu me
lembro, eram o Pedro Fázio, beque central, o Hélio La Laina, center-alf, o Careta, atacante, o Jovino (Paes), atacante também, o Pierin (Granucci), excelente beque direito, o golquíper Baratinha, apelido do Armando Semeghini, o Dorival Santana, grande alf da linha média, o Torricelli, que era um dos esteios do time, o Irani (Juliano), ótimo ponta direita e muitos outros que não me ocorrem agora, escalação de times de futebol, nunca foi meu forte. Com estes e com outros grandes craques, o Oeste sempre deu o recado. Ia jogar em Ibitinga, o eterno rival, e surrava o Rio Branco, vencia dentro e fora da cidade, e só tinha um time que dava trabalho pro nosso esquadrão, o Novorizontino, mas só dava trabalho. Houve um ano em que o campeonato regional prometia ser quente, o comando dos rubro-negros resolveu investir pesado e contratou um atacante veterano, desses que já haviam passado por vários times grandes, o Sacadura. Os torcedores o receberam com festa, carinho, hospitalidade.
E nos treinos o homem mostrava qualidade de craque. Quando chegou o jogo com o Rio Branco, lá em Ibitinga, a gente esperava um massacre, com brilhante atuação do Sacadura! Que tristeza! O homem dormia em campo, foi um jogador comum, e só atrapalhou, porque, desde os treinos, o time jogava em função dele. Foi uma das únicas derrotas para aquele “freguês” de anos, 3 x 1, me lembro. Outra história curiosa, daqueles tempos, foi a contratação do badalado goleiro Aldo, dono por muitos anos, da meta do Comercial F.C., time da 1ª. Divisão da Capital. Achávamos que era uma sorte grande o Comercial ter liberado seu goleiro para o Oeste. À boca pequena se dizia “aí tem dinheiro por fora!”. Mas o pessoal foi descobrindo que era só chutar para o canto direito que a bola entrava. Foram investigar o fenômeno, o homem estava cego do olho esquerdo. Não precisava “dinheiro por fora”, claro. Mas, estas coisas não acontecem só com times de cidade interiorana não. No Palmeiras, tão grandioso, aconteceu a vinda surpreendente do goleiro da Seleção da Argentina, Rugillo. Pra fazer gol nele, fácil, fácil, era só chutar do lado esquerdo, ele também era cego de um olho. O lendário Zezé Celli comentou, na sua barbearia: “Tem que por o Rugillo e o Aldo, lado a lado no gol, cada um garante um lado, ué!” São “causos” que a gente ouvia, se eram verdadeiros, só perguntando para o nosso querido Torricelli. |