Histórias que não foram escritas

Orestes Nigro

"A vida, enquanto vida, sempre ensina"

Neste meu reencontro com os leitores e leitoras, quero, antes de mais nada, fazer votos de que todos vocês tenham um ano tranquilo, saudável, repleto de ganhos, vazio de perdas e, contrariando as previsões pessimistas justificáveis, muito melhor que o ano que findou. Torno a dar meu abraço a todos os meus leitores de Itápolis e de Monte Aprazível, cidades temas de meus escritos, como também renovo meu abraço aos leitores avulsos que me honram com sua leitura, seus comentários e suas curtidas.

Tenho ainda muito o que falar sobre Monte Aprazível, assim como preciso completar minhas memórias sobre Itápolis. Assim sendo, peço-lhes a gentileza de me permitirem mesclar as próximas publicações com crônicas das duas cidades que são causa de minhas crônicas. Tenho em Itápolis inúmeros leitores que se interessam pelo que escrevo sobre Monte Aprazível e é bom que saibam que fui convidado a escrever sobre esta cidade, por leitores de Monte que liam o que eu publicava sobre Itápolis. A pergunta se repetia semanalmente: “Por que não escrever sobre o tempo em que o senhor viveu aqui em Monte?” 

Confesso que estava com muita saudade de vocês, meus queridos leitores. O que me afastou da escrita foi um episódio curioso que me levou a sentir-me inseguro em tudo que costumava fazer, como dirigir, ir às compras, às visitas a amigos, até mesmo sair de casa. Uma sensação incômoda constante, uma respiração ofegante a maior parte do tempo, a impressão às vezes de que minha cabeça ia explodir. A causa, nenhum médico conseguia desvendar, caindo sempre na hipótese do “stress”. De repente vieram os picos de pressão arterial nas alturas, eu que sempre tive pressão abaixo do convencional 12 por 8. Várias idas ao Pronto Socorro, medida paliativa que não era solução. Eu mesmo mergulhava nas minhas conjeturas a investigar o que, de novo, teria acontecido. O que me vinha sempre à ideia era um remédio recentemente receitado, contra o inchaço que tenho nos tornozelos, que eu vinha tomando há dois meses. Mas todos os médicos me garantiam que tal remédio não alterava a pressão arterial. Cansado daquela situação que me estava mortificando, tomei uma decisão, parei com o remédio. E a vida normal, sem picos de pressão, sem respiração ofegante, sem medos e inseguranças, tudo voltou a ser como antes, a tal ponto que eu nem acreditava que tudo aquilo passara. Precisei de um tempo para me acostumar com a volta da saúde e da alegria de viver. Eu precisava contar-lhes isto para justificar o meu afastamento, do contrário estaria cometendo uma grosseria com toda esta gente que me cobre de carinho e de afeto.

Para mim, este episódio, embora muito desagradável, foi mais uma lição de vida. Tudo tem sua causa, mesmo que seja difícil identificá-la, nada fica sem solução, embora demore um bom tempo. Outra lição é que nem tudo a bula de remédio previne ou explica, cada um de nós é cada um, assim como, nem toda experiência de outrem pode nos servir de ajuda. A vivência do ser humano, mesmo depois de ultrapassar décadas e décadas de existência, não garante que se aprendeu tudo. A gente tem sempre algo que falta aprender e isto é o que justifica estar vivendo. Jean-Paul Sartre, o existencialista, afirmava: “O ser humano só se define quando a morte o apaga, pois sempre poderá haver causas para que lhe ocorra uma mudança.”