Histórias que não foram escritas

Orestes Nigro

"Entrando pela Porta da Esperança"

Estamos em Monte Aprazível no último trimestre do ano da graça de mil novecentos e sessenta e quatro. Com todo o tempo para organizar a nova casa, com a ajuda incansável dos amigos Edson Guiduci e Fernando Graça, tomando conhecimento do bairro, dos vizinhos que completavam a quadra, como o simpático, movimentado Mercado Municipal, onde pontificavam os comerciantes de quase tudo, como a Dona Segunda e seu empório, o Pedro Virgílio (Pedrão) em seu balcão, o Barravieira e o Sr. Crespilho nos seus açougues, as irmãs Crespilho, Suely, Sileide e Sônia,

Prédio do Fórum

Prédio, com nova pintura, do Grupão EE Feliciano Salles Cunha

e as irmãs Pavin nas suas bancas recheadas de verduras, legumes, frutas, e tantas outras pessoas atenciosas, animadas, atuando num ambiente de alto astral. Subindo mais um pouco podíamos ver com calma os prédios públicos bem cuidados, do Forum, com a Delegacia de Polícia a tiracolo, o Grupão, o novo prédio do Aprazível Clube, todos circundando a bela Praça São João, rodeada ainda da nova e bela casa do Flávio de Carvalho e Dona Nena, o Banco Noroeste que já tinha sido transferido da Rua Osvaldo Cruz, a farmácia do Valdomiro, sempre atencioso, na companhia da Dona Geni, o Banco do Brasil,  a Padaria dos Danelucci, o bar do Zezinho, a Livraria e Papelaria do Sr. Constantino de Carvalho, pai da Professora Ruth Ceneviva, que já deixara de morar na casa dos fundos, morando agora  na casa voltada para a Rua Tiradentes; do lado da papelaria, tínhamos, na época, a farmácia do Kemer e do Jorgito, a casa estilo clássico greco-romano do Dr. Marcelo Bassan, do outro lado da esquina, tínhamos o Cartório do Registro Civil, comandado pelo Dr. Hieróclito de Barros; a praça ainda abrigava a casa da viúva do já saudoso Professor Raul Vieira Luz (que agora é nome de escola), a Professora Nadir; ao lado a casa da professora de música, Dona Lourdes, esposa do Dr. Hieróclito; a casa onde morava o Dimas, meu senhorio; depois dela uma casa com varandinha abrigava a família do irmão da Yolanda Abdalla, o Labibe e chegamos à esquina, onde morava o Sr. Elias Chibebe, pai de uma aluna   muito amiga e carinhosa comigo, a inesquecível menina Catarina, que me levava jabuticaba para o meu lanche.

Prédio da Prefeitura Municipal, só a pintura difere daquela época

O Sr. Chibebe era vereador, como ele também eram vereadores o Dr. Hieróclito e o cartorário, Sr. Daniel Laguna Hidalgo, que também tinha casa do outro lado da praça, vizinho da família Júlio, à esquerda, de um prédio comercial e da casa do Lino e da Dona Conceição Danelucci, à direita. A Praça São João ainda conservava o estilo antigo, o novo prefeito, Wilson Guiguet Leal, ainda não começara sua modernização. Naqueles anos em que morei em Monte, a Câmara Municipal ainda funcionava no andar superior da Prefeitura, ao lado do gabinete do prefeito e tinha a infalível presença do Sr. Lujan, seu secretário;  Uffa!

Voltando para o meu quarteirão, quero deixar completa a minha vizinhança da época em que para ali mudamos. O nosso vizinho da esquina, com frente para o Mercadão, era o Sr, Angelim, sua esposa Dona Amélia, seus filhos, Maria Inês, Ângela e Roberto; nossa vizinha da frente, Dona Ita, tinha um filho que morava com ela, o Luís Carlos, namorado de uma moça muito bonita ali do pedaço, e uma filha conhecida no meio educacional da Capital, autora de livros, a professora Terezinha Rocha. Para a numerosa criançada, Dona Ita tinha um tesouro, seu enorme e frondoso pé de cajá-manga e, para a alegria da meninada, ela pedia que eles trepassem no pé para apanhar as mais bonitas, que sempre ficam nos galhos do alto. O Ricardo, seus amiguinhos, Luís Henrique, Paulo, o Tato, o Luizinho, filhos da Dona Lúcia, irmãos da Isabel, todos participavam deste ato de “gentileza” e iam embora com as camisas pesadas da deliciosa fruta. Na casa da esquina de baixo, vizinha da casa do Sr. Ataliba, morava o Toninho Bucáter, funcionário escolar, que tinha uma penca de crianças e não durou muito tempo ali, pois transferiu-se para Rio Preto, de onde viera, No seu lugar veio morar o Darci Valdanha e sua esposa, Cida Chibebe, com os filhos,  Regina, Elias José,  Maura e Marcos Aurélio, meninada que logo se juntou aos outros. Em frente a casa do Darci, caçador das melhores rãs que eu já saboreei, morava então o Sr. Guiné Cabreira, com a Dona Mafalda Cera, professora do Grupão, e suas duas meninas lindas e inteligentes, a Rosângela e a Rosana; só bem mais tarde eles passaram a morar na esquina de cima, na casa em que morou a família do Sr. Henrique e Dona Mércia, Na frente da casa do Sr. Guiné, era a casa avarandada do Sr. Saturnino Gonçalves (Nino), com Dona Palmira, que nos deixou há poucos dias, e seus filhos, Eloína, Maria Helena, a “formiguinha” da primeira série,  o Cristóvão e a Láucia. Havia mais crianças que se juntaram à turma da rua, aquelas que ainda estavam na fase do grupo escolar ou da pré-escola. Eu fiz questão de citar um por um desta vizinhança, porque ela se transformou numa grande família, cuja criançada tomou conta da rua, onde brincavam de “Pé na lata” todas as noites e onde até festas juninas realizavam, aproveitando para comemorar os aniversários dos nascidos no mês de junho. Eles tinham líderes, tiveram até blocos para as matinês de carnaval, verdadeiros infantos em seu jardim estão petrificados em minha memória, assim como na deles, tenho plena certeza. Esta atmosfera florida, risonha e franca que alegrou nossas vidas anestesiaram minha mente de tudo de triste que eu vivera tempos antes.

Quando a vida nos fecha uma porta, logo Deus nos abre outra, é só sabermos enxergá-la e cruzá-la com esperança! Graças a Ele!

(*) Observações do autor: Lembrem-se sempre que estou discorrendo sobre uma época já vivida pela gente de Monte Aprazível, quando muitos de vocês ainda nem tinham nascido; outra coisa, minha memória segue uma linha cronológica e eu vou muito devagar na minha descrição dos fatos, porque sou detalhista, preciso até conter esta tendência. Faço estas observações porque tenho lido comentários que me cobram pressa. Calma, eu chego lá, tem muito chão pela frente, eu chego lá, se Deus quiser.