Francisco José Santarelli

Memórias Políticas

 

 

"Homenagem ao um ilustre professor

de francês e escritor itapolitano"

Durante toda minha existência, procurei cultivar a história de minha querida “Cidade das Pedras”. Poucos são os afeitos a isso, pois ainda jovem, imaginava com meus botões que não cultivar a história, não gravar, não publicar, não fotografar, era ser comunista, era apagar a memória de nossa de nossa cidade.

Partindo desse preâmbulo, sempre procurei ajudar os apaixonados cultivadores da memória de nossa cidade e assim sendo, colaborei na criação do nosso Museu Histórico e Pedagógico Alexandre de Gusmão e participei da primeira diretoria do mesmo.

Eram os desbravadores da preservação da história de nossa cultura e do nosso passado: Leão Machado, José Toledo de Mendonça, Carlos Antonio Dultra, os irmãos Gentile, com destaque para Gaetano, Theodoro Ellero, Adauto Mergulhão, José Manoel da Rocha Filho, Júlio da Silveira Sudário, Arthur Del Guercio e, mais recentemente, Lucas Gentil, Cris Rossano, Adilson Sensato e outros que me fogem da memória, além do nosso querido amigo Valentim Baraldi, agora no trabalho grandioso de restauração do Museu, pois é de meu conhecimento que além de ser co-autor de livro a ser lançado brevemente, está preservando, também, a história escrita dos jornais que foram circulados no passado, criando um acervo grandioso para nossa história.

Orestes Nigro

Orestes Nigro e Cônego Ednyr no lançamento do livro “Histórias que não foram escritas”, cuja arrecadação com a venda obtida foi revertida para o Abrigo Rainha da Paz

Tomei conhecimento que meu amigo, irmão e colega, meu aprendiz de catecismo na época em que os vigários eram os franciscanos, que quando no Ginásio, no Colégio, no Curso de Normalista era por nós, chamado de peixinho da nossa querida professora de francês, Dª Dalva Nery Caivano, que além de culta, era linda e austera, mas cativava a todos, tinha nesse meu amigo o maior admirador, que agora vai publicar o segundo volume do livro “Histórias que não foram escritas”.

Gostaria nessa oportunidade de enaltecer esse meu amigo de nome Orestes Nigro, mas para que seja de uma maneira diferente, não plagiar, não copiar palavras que o enaltecem dignamente, transfiro publicando uma carta de meu filho, Eduardo Guilherme Santarelli, da qual fui portador, que embora jovem, cultiva de uma maneira que me deixa orgulhoso, o passado de nossa querida Itápolis.

Desculpe, meu amigo Orestes, mas acho que todos deverão saber o quanto é culto, humilde e apaixonado por Itápolis.

Carta de Eduardo Guilherme Santarelli a Orestes Nigro:

Prezado Sr. Orestes

Recentemente, meu pai presenteou-me com o livro “Histórias que não foram escritas”, de sua autoria.

Muito mais que um baú de memórias, seu livro é um relicário de Itápolis e sua gente.

Suas crônicas possuem o dom de dar vida ao passado, às nossas lembranças e a nossa saudade.

Impressiona a riqueza dos detalhes, o nome dos mestres, a prole completa das famílias, a relação de parentescos, as lojas do comércio, as formas e cores das casas, as árvores frutíferas dos quintais, as flores dos jardins...

Recordando a infância e a juventude, não ornamenta esses momentos, ao contrário, retrata-os fidedignamente tais quais foram vividos. “A lida diária era constante e pesada e era distribuída entre todos. O Nico cuidava da horta, o Romeu ajudava na oficina, a Zizinha na lavagem de roupa, a mim cabia moer o café, ir às compras pra minha mãe. No dia da lavagem da casa, todos entrávamos em ação”.

A origem humilde é apresentada sempre com muito orgulho. “meu nono exerceu o ofício de folheiro, artesão que era, fabricando regadores, torradores de café, canecas de folhas de flandres e outros utensílios”... “também exercia a profissão de jardineiro, perito que era em enxertos de roseiras e plantas frutíferas”. “Meu pai foi encanador” e “minha mãe trabalhava na costura e nos trabalhos manuais (bordados, crivos, colchas de retalho).

Numa linguagem simples, mas impregnada de emoção, suas histórias são contadas com a utilização de dialetos que só nós itapolitanos ainda utilizamos, afinal, onde mais “reclame” é anúncio; “vasca” é tanque de lavar e “passeio” é calçada?

Procura relatar a vida dos que conheceu, e são tantas vidas! E enaltece e louva a todos com a mesma admiração, sem distinção. Quem mais, se não fosse seu “Histórias que não foram escritas”, poderia homenagear anônimos para muitos que tanto contribuíram para a formação da história da “minha Itápolis”: Dª Nhanhã – minha colega de coro; Dª Elza Sene – sua tia e minha professora de catecismo de tantos outros; Dª Iole Cauduro – a torcedora símbolo do Palestra e do Oeste; “Seu” Zé Celli – o barbeiro, esposo da Dª Páscoa e dono do Ford 29 mais conservado que conheci.

Suas crônicas são verdadeiras aulas sobre nossos costumes, casos, genealogia das famílias itapolitanas e a mais importante das lições: o caminho de volta, pelo labirinto da vida, para o lugar onde eu posso ser novamente o neto dos meus avós e sentir o calor do abraço de minha mãe.

Por tudo isso, Sr. Orestes, quero parabenizá-lo e agradecê-lo.

Agradeço, também, pela maneira carinhosa que se refere aos membros da família Santarelli e a forma distinta e fraternal que trata meu pai (Chiquinho).

Fico por aqui, ansioso pelo próximo final de semana para ler “Histórias que não foram escritas”, da minha, da sua, da nossa Itápolis.

Um forte abraço.

Eduardo (Dudu) Santarelli.

E assim Orestes respondeu:

Você me emocionou, me deu razões para continuar por esta senda.

Muito obrigado Eduardo, pelas palavras tão generosas e pela expressão fácil, fluente, que confirma minha impressão sobre o estudante itapolitano que honra a cultura de sua terra. Um forte abraço.