Francisco José Santarelli

Memórias Políticas

 

"Ponte da Vila Cajado"

Quem na sua mocidade viveu no regime ditatorial e se, despretensiosamente, iniciou a carreira política já no início de um regime democrático, sentiu em toda plenitude que esse regime, o democrático, era o melhor em todos os sentidos. Mas, para tal foi necessária muita paciência e muito trabalho para poder usufruir plenamente desse regime. Tudo mudava, havia necessidade de utilizarmos da experiência dos políticos mais idosos para atingir a meta de uma plena democracia.

Carlos Tucci

Antonio Coletti

Eu era, na época, o mais jovem vereador eleito, porém contava com a experiência política e democrática de um Carlos Tucci, de conselhos de uma vivência cheia de sabedoria do amigo Antonio Coletti, vereador e morador do Distrito de Tapinas e, dessa maneira segura, procuramos promover uma democracia desejada, pois tínhamos liberdade para consultá-los.

A Câmara funcionava com duas sessões ordinária no mês e, se necessário, sessões extraordinárias convocadas pelo prefeito. Vereador exercia o cargo sem remuneração e contávamos com o trabalho de um único funcionário, Dr. Arthur Del Guércio, que era secretário, consultor jurídico, auxiliar e orientador do Presidente da Câmara durante as sessões e ainda datilografava os projetos e as indicações dos vereadores. Contávamos, também, com uma diarista que servia um delicioso cafezinho e água durante os trabalhos legislativos.

Ao assumir o cargo, fui escolhido para ser líder da maioria e para tal com o entusiasmo natural, li e reli com atenção o Regimento Interno da Câmara, bem como os projetos e indicações que eram, na época, publicados no Diário Oficial do Estado, das Sessões Legislativas da Câmara Estadual de Deputados.

Ponte do riacho da Vila Cajado

Cheio de entusiasmo redigi indicação ao Sr. Prefeito para construir uma ponte sobre o pequeno riacho no trecho entre a Fazenda Santa Maria e Vila Cajado, beneficiando, assim, todos os moradores daquela região até o Bairro das Antas, uma bela região produtora de cerais na época.

 

Procurei Carlos Tucci, ex-presidente da Câmara, político experiente e meu amigo, solicitando se estava correto o rascunho da indicação por mim redigida e recebi a seguinte resposta:

Capela e Barracão de Festas da Vila Cajado

- “Tudo certinho, Chico! Perfeito! Nada a acrescentar, porém, como sua esposa leciona na Vila Cajado, ao apresentar a indicação, os vereadores da oposição vão criar embaraços alegando interesse próprio e vão procrastinar esse seu projeto. Faça o seguinte: você é o líder da maioria e do prefeito; peça a ele a construção da ponte e, tenho certeza que, como o projeto é bom e vem de encontro dos anseios dos moradores daquela localidade, você será atendido”.

 

Fiquei contente, porém, frustrado, pois esperava que tudo funcionaria como tinha imaginado.

Atendido pelo prefeito, foram colocados ao lado do riacho, grandes tubos de concreto e qual a minha surpresa, quando um vereador, também da situação, aproveitou o fato e, levando um fotógrafo, subiu nos tubos para ser fotografado e mostrou aos moradores dos bairros o resultado do “seu” trabalho conseguido junto ao Sr. Prefeito.

Moral da história: embora diferentemente das artimanhas exercidas por nossos políticos de agora, naquele tempo também as usavam para proveito próprio, pois esse vereador trabalhava junto à população ruralista como vendedor e se aproveitou de minha conquista para se promover politicamente e aumentar suas vendas.