Crônicas de Cássia Gentile

O Circo da Minha Infância

 Vivi muitas emoções circenses lá em Itápolis na minha infância e que  alegria ele despertava em toda a população. Naquela época havia, de fato, desfile pela cidade das atrações que seriam apresentadas em seus espetáculos, levando o público à rua e a aplaudir todas as atrações.

 As sessões eram todos os dias, menos às segundas à noite, sábados e domingos, sendo que nos domingos haviam as “matinées” ( termo afrancesado).  Que palavra mágica!  Com que ansiedade, nós, as crianças,  esperávamos por essa matinée. A ansiedade era tão grande que uma vez  quando o circo chegou, minhas amigas e eu, perambulando pela cidade nos deparamos com a tenda maior e suas arquibancadas montadas e não resistindo a curiosidade nos rastejamos para dentro da grande lona por uma de suas laterais e subimos em uma arquibancada, mas o mal feito tem seu castigo, diriam os mais velhos, e em dado momento, perdendo o equilíbrio, zás, caí lá de cima e estatelei-me no chão duro.

No entanto,  meu anjo da guarda estava atento naquele dia e nada de mal me aconteceu, a não ser o fato de ficar muito assustada. Fico imaginando o que quebraria se fosse hoje..

No domingo, às 16 horas dava-se início ao matinée e tinha-se um costume naquela época de fazer um concurso da boneca mais bonita.

Era até bonito de se ver toda a meninada com suas bonecas no colo, com seus vestidinhos limpos e engomados, cabelinhos penteados.....das bonecas, claro!

Eu e minha irmã também levávamos as nossas, mas sabe,  nunca ganhamos...kkkkkkk ... o que nunca trouxe tristezas aos nossos corações porque muita coisa havia para se encantar e ser feliz, como a pipoca colorida, os pirulitos de puro açúcar queimado embrulhados em papéis coloridos  que eram vendidos em tabuleiros pelo pessoal do circo, sem falar dos balões, que era a alegria da minha irmã e eu, pois depois da sessão, em casa, passávamos horas brincando com os mesmos. Na época não tinha balões pra vender nos supermercados ou casas de festas, aliás, nem casas de festas tinha.

 A esta altura, não havia mais tempo para compras de guloseimas e outras quimquilharias, como chapeuzinhos, língua de sogra e tirar fotos de binóculos, lembram? Pois, a sessão já ia começar e por uma hora e meia adentrávamos para o mundo mágico do circo itinerante. Palhaços, equilibristas, engolidor de fogo, domador de leões, elefantes, cavalos ( o que não concordo de maneira nenhuma nos dias de hoje), trapézio, que  nos tirava o fôlego ao ver os trapezistas voarem acima de nossas cabeças,  novamente os palhaços que arrancavam gargalhadas da criançada e, então, o concurso das bonecas e aí era hora do intervalo.

Quanta emoção, quantas coisas a serem ditas e guardadas na memória para nunca mais esquecer.

Após um tempo, o último show retornava, era o GLOBO DA MORTE.

Alguém se lembra disto? Três rapazes eram colocados com suas motos, todos aparamentados e a grande esfera era fechada, enquanto eles davam partida em suas motos com um barulho ensurdecedor e “corriam” feito loucos por aquela esfera, todos ao mesmo tempo para todos os lados, a desafiar o perigo mortal que rondava a atração.  Nossos corações só voltavam ao normal quando finalmente paravam no centro do globo, deixando suas motos desligadas e saltando para o meio do picadeiro para receberem os merecidos e entusiasmados aplausos.  E, então, em meio a música da bandinha que tocava como a anunciar o final do espetáculo, saíamos já para a tarde adiantada que se fazia lá fora, enquanto os artistas iam descansar e se alimentar para a sessão noturna.

Uma curiosidade, não foi uma nem duas vezes que depois que o circo ia embora acabava- se descobrindo que alguma moça da cidade havia “fugido com o circo”. Isso mexia com a nossa imaginação e ficávamos a questionar, mas, como, e agora, por quê??? Nossa, que coragem!

Era um mistério, pois nunca nos explicavam que a moçoila se apaixonara  por um dos artistas e numa loucura de paixão como contam os poetas,  haviam decidido seguir o circo naquela vida nômade, confiando no amor.

Eu, francamente, espero, de todo o coração, que não tenham se arrependido....

O circo ficava cerca de dois ou três meses e era sempre com grande  tristeza que o víamos partir deixando marcas no chão onde fora a lona das ilusões.

 Sou muito grata ao Criador por ter-me permitido viver essas  emoções que tenho o prazer de dividir com todos os que dedicam alguns minutos de suas vidas a lerem minhas memória.

Um grande abraço!